Duas fotos já consideradas “clássicas” tiradas pelos próprios soldados americanos na prisão iraquiana (a maioria tiradas por soldados mulheres). O grande escândalo de Abu Ghraib, em 2003, quando foram divulgadas as fotos de detidos naquela prisão em situações de tortura e humilhação. Justificadas como sendo "procedimento operacional padrão", nome do novo documentário do cineasta Errol Morris, ganhador do Grande Prêmio do Júri (Urso de Prata) no Festival de Berlim de 2008. O documentário investiga os personagens e os motivos por trás dos crimes. As fotos foram tiradas por três câmeras que captavam as poses de vários ângulos. Os soldados estavam sempre sorrindo e fazendo gestos de positivo. Entre eles a soldado Lynddie England, que pode ser vista puxando um prisioneiro por uma coleira de cachorro.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Abu Ghraib
terça-feira, 9 de setembro de 2008
O Andrógino
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Seio da Alma
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Das coisas que D-us permite
domingo, 24 de agosto de 2008
Braços
"Salvar uma vida é como salvar o mundo". O Talmud
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Dicionário de lugares que não existem
Nosso encontro teria sido... Eu te diria... Ah, todo mundo diz tanta coisa, eu... Pensei que você soubesse de um lugar, acho que eu te falei, com certeza não falei. Não sei, eu teria combinado de te encontrar, você... Eu não fui... Eu não iria, você sabe, você nunca apareceu... Os lugares nem deviam existir; nós não seríamos obrigados a marcar encontros, fazer planos... Uma vida assim tão triste, cheia de medos, sem entrega, sem nossas melhores intenções, melhor assim. Ah, os homens estão com medo de você, querida, onde quer que você vá, cada um deles te dirá que... Que nada... Ninguém vai se entregar a você assim tão fácil. Tudo é prisão, pequenas mortes que não curam, que não atravessam... E você queria tanto sentir o amor, sentir o sal da vida, ver as luzes da loucura-catedral: os homens estão com medo.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
domingo, 3 de agosto de 2008
Corpo de Saudade
F – Eu vou sentir saudade do seu corpo, tanta.
(Cena da peça "Saudade"de Leo Lama.) .
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Janela da Alma
"A idéia surgiu de uma vivência muito pessoal minha, eu achava que o fato de eu ter uma miopia muito grande tinha influenciado na minha personalidade e até na minha vida. Achava super interessante essa questão do ver ou não ver. Tudo depende do que a gente já viu antes, que determina a maneira como a gente interpreta o que está vendo. Eu achava muito estranho não se falar disso em cinema ou televisão, achava que dava para fazer alguma coisa emocionante." João Jardim.
“O primitivo manda na minha alma. Não entra pelo olho. O olho vê, a lembrança revê. O poeta transfigura o real e isso é o mais importante...acho que eu não disse o que vocês queriam ouvir... rs, rs, rs,” Manoel de Barros, poeta.
"Eu pedi a Deus para Deus me deixar um tempo cego, cego aparente. Porque olhando é tanta coisa ruim que a gente vê, que atrapalha a visão certa, a visão das coisas que a gente quer fazer na vida". Hermeto Pascoal, músico.
“A gente enxerga mais é com o terceiro olho. A gente escuta mais é com a nuca. Quando você quer prestar atenção em algo que está ouvindo você não aponta os ouvidos pra fonte, mas abaixa um pouco a cabeça”. Hermeto Pascoal.
“Nossa imaginação completa as palavras. Eu queria ler entre as imagens. A maioria dos filmes é emparedada, não dá espaço para sonhar”. Oliver Sacks, neurologista.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Doce da Grana
O glamour abusivo de cada outdoor que da minha mente eu amputo, volta na memória da cidade que, fingida de limpa, sabe: pra cada putaria há um viaduto. A grife vende de novo o antigo produto: todas as práticas sexuais são estupros. Todas as palavras, todos os relacionamentos, todos os atos são corruptos. As bocetas queimam nos charutos. Todos os amores são putos. Rituais bizarros que duram poucos minutos. E no futuro do pretérito toda atrocidade seria culto: a nenhum cú seria concedido indulto. Nenhum corpo prestaria se não estivesse enxuto. Ninguém mais saberia o que é insulto. A nenhuma violência seria prestado o luto.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
O Comunismo
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Dois
Partido, nosso coração está sempre partindo, repartindo nossa falta entre aqui e lá.Sem conseguir tomar partido, sem saber ao certo porque partimos, fomos indo pra sentir vontade de volver. A saudade borda nosso ar estrangeiro que já era assim antes de sermos tão sem espaço. Por amor, por trabalho, por desespero, por esperança é que estamos sempre indo ao avesso. Somos tão estranhas almas.
terça-feira, 3 de junho de 2008
Repouso
segunda-feira, 2 de junho de 2008
sexta-feira, 30 de maio de 2008
No Castelo da tristeza em Processo estanque de Metamorfose
“Poucas vezes a pobre e breve infância concretizou-se em imagem tão evocativa. A foto foi tirada num desses ateliês do século XIX, que com seus cortinados e palmeiras, tapeçarias e cavaletes parecia um hibrido ambíguo de câmera de torturas e sala do trono. O menino de cerca de seis anos é representado numa espécie de paisagem de jardim de inverno, vestido com uma roupa de criança, muito apertada, quase humilhante, sobrecarregada com rendas. No fundo, erguem-se palmeiras imóveis. E, como para tornar esse acolchoado ambiente tropical ainda mais abafado e sufocante, o modelo segura na mão esquerda um chapéu extraordinariamente grande, com largas abas, do tipo usado pelos espanhóis. Seus olhos incomensuravelmente tristes dominam essa paisagem feita sob medida para eles, e a concha de uma grande orelha escuta tudo que se diz.” Walter Benjamim
Tristeza de cão
Não ter um rosto entre os soldados.
Não ser um rosto entre os soldados.
Não ter um gosto entre os soldados.
Não ter um posto entre os soldados.
Não ter composto entre os soldados.
Não ter encosto entre os soldados.
Não ser encosto entre os soldados.
Estar deprimido entre os soldados.
Estar comprimido entre os soldados.
Estar dividido entre os soldados.
Estar esquecido entre os soldados.
Estar em marcha entre os soldados.
Estar em marcha contra os soldados.
Ser uma mancha entre os soldados.
Estar machucado entre os soldados.
Ser soldado vivo entre os soldados.
Ser um sol dado entre os soldados.
Ser um cachorro entre os homens.
Ser uma árvore entre as almas.
Ser um morto entre os mortos.
Ver um fantasma entre os homens.
Estar preso na trompa.
Ser trauma na turma.
Ser trânsito no tráfego.
domingo, 25 de maio de 2008
Tempestade de Promessas Quebradas
Lento no luar lá fora, na noite lenta, o vento agita coisas que fazem a sombra mexer. Não é talvez senão a roupa que deixaram estendida no andar mais alto. Mas, a sombra em si não conhece camisas e flutua impalpável, num acordo mudo com tudo. Fernando Pessoa, fragmento 145 do Livro do Desassossego.
Aqui exponho o que me foi projetado, se estou perdido em confusões, sou o único culpado. Perdi várias oportunidades de ficar calado. Mesmo assim sigo contando e sei que estou sendo contado. São minhas as visões, não estão em nenhum livro revelado. Talvez sejam apenas alucinações de um coração magoado. Talvez sejam sonhos de alguém que jamais deveria ter sonhado. O que vi está visto e minha cegueira é a prova do que foi visado.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
No colo de uma raiz
"Para veres o mundo em um grão de areia
E o céu em uma flor silvestre,
Segura a imensidão na palma da tua mão
E a eternidade em uma hora". William Blake.
Estreito caminho da sombra
Envolta em mar de mênstruo a mostra do seu cinema
Oferece a outra face, a fenda estreita, o aperto.
Moça humana da boca do reto diz segredos curvos.
Seu corpo manchado de luz e o escuro do meu cunho.
A porta dos fundos, a porta dos serviçais.
Seu olho mais profundo me observa, me devassa.
Seu esfíncter me separa de minha própria sombra.
O escroto medo pesa em meu barco
Em frente ao beco do tesouro fétido.
Eternamente entregue ao sacrifício,
No entanto, ninguém ao orifício,
Estará você para sempre proibida de se martirizar.
domingo, 18 de maio de 2008
Arte
"Vai, vai, vai, disse a ave: o gênero humano não pode suportar muita realidade". T. S. Eliot: Quatro Quartetos.
Reconstruir Teu corpo,
Devolver-Te o dissolvido,
O volátil, o imponderável,
O informe.
Informar-Te de forças.
Não mais um corpo
A cada dia, tantos espelhos.
Paramentar-Te com olhos.
Entre tantas, dar-Te a mão.
Separar-Te.
Abrir-Te os poros, os pontos.
Montar Teus ossos,
Teu quebra-cabeça.
Colar Teus cacos,
Untar Tuas peças.
Ente Tuas pernas,
Pulsos,
Respirar-Te.
Soprar-Te o peito.
Beijar-Te a boca.
Inconcluir-Te.
quinta-feira, 15 de maio de 2008
HDR
Observemos, meus companheiros de solidão: o que a foto vê que o olho humano não vê? O que o olho vê que a foto não revela?
Então, assim na era das câmeras digitais, surge um novo olhar: a técnica de mesclar três ou mais fotos em um mesmo registro com diferentes exposições.
HDR é a sigla para High Dynamic Range (Grande Alcance Dinâmico). Os sensores das câmeras digitais conseguem captar as colorações dentro de uma faixa teoricamente limitada (LDR - Low Dynamic Range). Isto faz com que em zonas de muito contraste, algumas informações de cores sejam perdidas.
Há uma pessoa parada em uma janela durante o dia, é sua amada e você quer fotografá-la. Você está dentro do quarto com pouca iluminação. Para que o interior do quarto apareça é necessário aumentar a exposição. Você tira a foto. A foto estoura, porque o fotógrafo elegante não usa flash.
Com o HDR é possível equilibrar estas exposições de forma que na imagem se possa ver tanto sua amada quanto o que está lá fora, através da janela. A partir de um mesmo registro com diferentes exposições, o programa de software faz uma mescla das fotografias tiradas e posteriormente permite um ajuste das tonalidades, um mapeamento de tons.
Surgem imagens sombrias, efeitos que lembram cartoons, certo psicodelismo surreal, dizem alguns. Outros falam em cores mais próximas da realidade.
Seria a técnica de HDR um processo que artificializa a arte de fotografar?
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Entre
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Inconsciente ótico
Foto de Sabine Weiss, fotógrafa Suiça (1924-), Restaurat Coquet, Paris, 1954.
De que ando por meus passos perseguido, pesos, possíveis presságios. Sempre, sempre sem, sempre aqui no futuro do pretérito. Se estou tomando café no balcão, se estou servindo, se estou passando de carro, se te dou um beijo de adeus ou se sou por você ardentemente beijada. Se sou um desses homens, se sou uma dessas mulheres, se sou algo, se sou o fotógrafo, se estou desse lado ou do outro da calçada. Se vi o que se vê, se viu-se o que se veria, se víssemos, se nos veriam, se nos verão. Se fosse aqui, em algum lugar teria sido, se foi, se seria, se tiver mesmo sido. Com quem, qual quem, alguém, algum, ninguém. E o que era ainda é? O que ficou preso na fotografia, o que se libertou, o que está presente pra quem vê, o que está e não se vê, o que não se veria, o que ficou ausente, a presença do que não há, do que não é, do que não teve permissão, do que não foi visto, do que foi permitido, do que, de quem. O que foi perdido, o que foi encontrado, o que se encontrou, o que se encontraria, o que seria o encontro. De que não é lembrança, de que não me pertence, de que não foi comigo, de que não fui eu e ainda assim meu, seu, nosso, Dele. De onde veio? De onde vim? De onde se vem? De onde se vai? De que não é preciso e é assim tão justo. De que é só um instante e por isso mesmo eterno retorno. De lá pra cá e de cá aqui, longe, como todos os pertos parecem ser, perto, como todos os longes são: melancolia. E ela sendo plástica e talvez só palavra, que permeia tudo, que penetra em falta, rainha das ausências, preta e branca ou cinza, sempre como que se retirando, posta, postulada e postiça, invisível a olhos nus, cobrindo os corpos, pela lente, pele lenta, ela está. Se até assim, na sua frente:saudade.
Soldado
Só morre quem sente o abraço. Não adianta abrir os braços e deixá-los assim: ao aberto. Há que se abraçar a Dama do Descanso. Quem te arrancou o amplexo, Miliciano? Quem em imensa crueldade o deixou suspenso: membros escancarados, cabeça tombada no espaço, lábios tortos, garganta engasgada? Miramos o oco do grito mudo de sua arma, goela calada, apontada para o céu, já não mira mais: admira-se que estará para sempre na mão de sua estátua ferida. Quem te deixou para sempre assim: sem leito, sem sepultura, sem o envolvimento do chão? Quem, Miliciano Legalista Frederico Borrell Garcia, quem te deixou em vôo estático, para sempre ferido à bala, sem repouso?
Só sua sombra sobre o solo sossega.
Vagina
Passasse eu por estreita frincha:
Conhecesse a seiva de suas entranhas:
Cruzasse o arco do contorno:
Fosse tronco nos músculos de seu núcleo:
A arquitetura do anel dos seus lábios:
Dentro: mais profundas e verdes: outras vaginas, mais selvagens, mais virgens.
Mata: espreitam-me suas raízes.
O Fotógrafo
Henri Cartier-Bresson, fotografo francês (1908-2004) .
Mútuo reconhecer instantâneo: a vida vira foto quando reconhece o fotógrafo e este reconhece a vida.
Ele ficava o dia todo em frente ao mundo pronto a captar um triz. Fazia amor com Leica até que sumisse e só ela. Tirava a foto quando conseguia virar o que fotografava. Com um estilete mudo, cortava uma fatia do visível. O momento decisivo, ele dizia, é aquela fração de segundo em que todos os elementos de uma situação rotineira entram em perfeita harmonia.
Subamos a escada caída para o infinito do espelho, então.
E fica a prova concreta de que se pode andar sob as águas.
terça-feira, 6 de maio de 2008
Planos
Tomássemos o último avião e a boca do céu quase fechasse. Viajássemos assim no sorriso que restasse das trevas dos últimos dias. Aonde iríamos, meu amor? Cruzássemos o topo da cruz elétrica ou parasse assim para sempre nosso aeroplano. Para sempre assim nossos planos, flutuando plenos entre o pior de nós e o que voasse. Sem que tais vapores escuros nos tocassem, em vôo suspenso, em repouso eterno.
Pontes e Meadas
Quanto mais uma conversa é realmente uma conversa, menos o seu desenrolar depende da vontade de um ou de outro parceiro. Assim, portanto, a conversa efetivamente mantida jamais é a que queremos manter. Pelo contrário, em geral é mais exato dizer que somos arrastados, para não dizer enredados, numa conversa. Hans-George Gadamer, em 'Verdade e Método'
“Fotografia e Saudade”, o blog, surgiu de uma brincadeira em meu outro blog "Companhia Solitária" (www.leolama.blogspot.com). Comecei a escrever legendas, ou algo assim, para as fotos preferidas de minha amiga, a cineasta Kity Feo. Resolvi ampliar esta tentativa de se criar um diálogo entre imagens falantes e palavras imagéticas aqui neste novo espaço. E já começo a pensar: