terça-feira, 6 de maio de 2008

Pontes e Meadas

Foto de Paulo Prestes Franco. Paulo é cineasta, videomaker, editor de imagens e tudo mais.

Quanto mais uma conversa é realmente uma conversa, menos o seu desenrolar depende da vontade de um ou de outro parceiro. Assim, portanto, a conversa efetivamente mantida jamais é a que queremos manter. Pelo contrário, em geral é mais exato dizer que somos arrastados, para não dizer enredados, numa conversa. Hans-George Gadamer, em 'Verdade e Método'

“Fotografia e Saudade”, o blog, surgiu de uma brincadeira em meu outro blog "Companhia Solitária" (www.leolama.blogspot.com). Comecei a escrever legendas, ou algo assim, para as fotos preferidas de minha amiga, a cineasta Kity Feo. Resolvi ampliar esta tentativa de se criar um diálogo entre imagens falantes e palavras imagéticas aqui neste novo espaço. E já começo a pensar:

Tudo é linguagem? Tudo que existe é falante? Se assim for, as imagens são palavras visuais. Então, para que legendá-las se já dizem? O que dizem? Ver é relembrar? Dizer é traduzir? Verter para outra língua é adulterar? Recriar? A tradução carrega em si uma saudade, uma melancolia do que era, do que foi primeiro. Assim é a fotografia, como a palavra, uma reminiscência, a suspensão de um momento, um convite à recordação, à revisão.

São muitos os sentidos tanto das palavras como das imagens. O que vemos, ouvimos e lemos, é apenas um recorte possível. Portanto as atividades de ver, ouvir, ler e até sentir, podem estar subordinadas à intuição de que há outras percepções além daquelas que percebemos. Nada é definitivo. Um olhar, uma palavra, um gesto, é uma perspectiva, um ângulo. Cada percepção deve abrir espaço para outra, deve ser uma ponte que nunca acaba. Cada ângulo, cada olhar, cada dizer, deve supor outro até que todos os sentidos sejam possíveis, como uma fotografia caleidoscópio. Que tal?

Meu intento é brincar com a beleza (diferenciando o belo do bonito) das imagens e das palavras, evidenciando-as de forma poética, que talvez seja a única forma de nos salvarmos da mudez árida que se anuncia, causada pelo excesso de comunicação.

Diz mais quem silencia. Diz algo que não fecha.

5 comentários:

Laa Kybele: disse...
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Laa Kybele: disse...
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Laa Kybele: disse...

A discussão na imagem caleidoscópica implica na ilusão ao infinito:

"Uniformidade: porque, se as formas das partes mudam, a imaginação, a cada mudança, encontra um obstáculo; sois exposto, a cada alteração, ao término da idéia e ao início de outra, o que resulta na impossibilidade de continuar aquela progressão ininterrupta que é o único meio capaz de imprimir em objetos limitados o caráter de infinitude.

Quanto a discussão do belo e do bonito:
O sublime não é apenas o belo elevado ao seu mais alto grau. Da mesam forma, por analogia, o bonito não é simplesmente o belo reduzido à sua expressão mais comum. O sublime exige a condição de ilimitado: é sublime o que se nos escapa no juízo imediato do belo. O sublime é aquilo que a imaginação não consegue deter; o belo é detível pela imaginação e encontra-se num objecto finito. O bonito (e todas as variantes de menoridade do belo como o gracioso, o lindo, o encantador, etc.) é o belo sem grandeza de espécie limitada. A avaliação de um objecto em termos de sublime, belo ou bonito é a mais subjectiva das actividades judicativas do homem.
O belo só faz sentido para o homem, por isso tem que ser uma categoria que está presente no Ser do homem. Mas o belo não é determinante do Ser de todas as coisas para que se dirige. Daquilo que dizemos ser belo, extrai-se um juízo de valor que afeta a existência em si do objecto analisado. Como defende Kant, na Crítica da Faculdade de Julgar (I, 2), uma coisa é bela em função de uma simples observação subjetiva, não se colocando em causa a existência que a coisa tem em si mesma. Kant distingue o belo do bom (o que agrada por meio da razão) e do agradável (o que exige a aceitação dos sentidos). O belo resulta de uma reflexão subjetiva sobre um objeto, sem haver necessidade de saber que coisa deva ser esse objeto (a não ser que queiramos determinar se ele é bom), ou seja, uma coisa bela não pede um conceito sobre a coisa em si.
"Segundo Hegel, a Ideia do bem, da verdade e do belo completam-se, porque, em suma, só há uma Ideia. Tudo o que existe contém a Ideia. A estética ocupa-se em primeiro lugar da Ideia do belo artístico como ideal. O romantismo de Schiller, Goethe e Schelling definira o belo como o infinito no finito.

Anônimo disse...
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Marcia G. disse...
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