quinta-feira, 15 de maio de 2008

HDR

Foto de Paulo Prestes Franco, especialista em HDR. Velha estação de trem em Paranapiacaba.

Observemos, meus companheiros de solidão: o que a foto vê que o olho humano não vê? O que o olho vê que a foto não revela?

Então, assim na era das câmeras digitais, surge um novo olhar: a técnica de mesclar três ou mais fotos em um mesmo registro com diferentes exposições.

HDR é a sigla para High Dynamic Range (Grande Alcance Dinâmico). Os sensores das câmeras digitais conseguem captar as colorações dentro de uma faixa teoricamente limitada (LDR - Low Dynamic Range). Isto faz com que em zonas de muito contraste, algumas informações de cores sejam perdidas.

Há uma pessoa parada em uma janela durante o dia, é sua amada e você quer fotografá-la. Você está dentro do quarto com pouca iluminação. Para que o interior do quarto apareça é necessário aumentar a exposição. Você tira a foto. A foto estoura, porque o fotógrafo elegante não usa flash.

Com o HDR é possível equilibrar estas exposições de forma que na imagem se possa ver tanto sua amada quanto o que está lá fora, através da janela. A partir de um mesmo registro com diferentes exposições, o programa de software faz uma mescla das fotografias tiradas e posteriormente permite um ajuste das tonalidades, um mapeamento de tons.

Surgem imagens sombrias, efeitos que lembram cartoons, certo psicodelismo surreal, dizem alguns. Outros falam em cores mais próximas da realidade.

Seria a técnica de HDR um processo que artificializa a arte de fotografar?

9 comentários:

Laa Kybele: disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Laa Kybele: disse...

Artificial >
do Lat. artificale
adj. 2 gén., produzido por arte ou indústria; postiço; que não é natural;

Acredito que um resultado alterado através de uma mescla de fotos via plugin pode sim enaltecer ou corromper uma imagem pura- ou seja, artificializar a imagem inicialmente capturada, mas não a arte de fotografar.

A questão não seria a utilização de um plugin, e sim se atingimos o diálogo entre as novas ferramentas tecnológicas e a arte em sí-
Cito Gombrich:
"Obras de arte não são espelhos, mas, como espelhos, participam dessa ardilosa mágica de transformação que é tão difícil traduzir em palavras. Há pouco tempo, um mestre da introspecção, Kenneth Clark, descreveu vividamente como foi derrotado ao tentar capturar "de tocaia" uma ilusão."
Transcreveu-se "o invisível mundo das idéias"?

Anônimo disse...

Eu volto com minha velha perguntinha:
A que se destina este olhar ou esta expressão?
Pra mim o "foco" não se basta em si porque a arte pressupõe o outro... só a arte pressuporia? rs...
Mais e além do que a camera ou a tecnologia pode captar, desta que teimamos em chamar de realidade mas que de "real" só manifesta a ponta de um mistério, fica a pergunta do destinar-se, porque: o que quer que meus olhos vejam deste teu olhar? Qual a intenção? Porque com-forme... com-forma-se com a simples e velha analogica sem flash ou as novas tecnologias... com-fere mira ou com-flui o imanecente... Com-feriu a naturalidade do desconhecido que cotidianamente não observo, adormecidos na rotina? Trans-lucidez! (É o que se espera...)
Arte é espelho, sim!, mas aí, precisamos destrinchar o que espelho significa e reflete D'Ele mesmo. Fica prum próximo post. Deixo um trechinho do Espelho do Rosa que faz já um link com teu post "Intenção" num rodamunho de ex-terna vontade de com-densa-ação ex-tinta, - pois in-Terna - de pintar co'as viceras do coração:
(ele olhando-se no espelho):..."Sobreabriam-se-me enigmas. Se, por exemplo, em estado de ódio, o senhor enfrenta objetivamente a sua imagem, o ódio reflui e recrudesce, em tremendas multiplicações: e o senhor vê, então, que de fato, só se odeia é a si mesmo. Olhos contra os olhos. Soube-o: os olhos da gente não têm fim. Só eles paravam imutáveis no centro do segredo... Meditei-o. Assistiram-me seguras inspirações."

Laa Kybele: disse...

Concordo com vc Andréah. Qdo trato da transcrição do invisível mundo das idéias, estou falando exatamente disto: da intenção > expressão. Saber-se captado. Todos queremos ser enxergados, por isso transcrevemos via mídia que fôr, seja lá qual o processo necessário. Com ou sem plugin, purista ou não. Não importa quão hermético seja o resultado. Quanto ao espelho, esta foi uma citação, simbólica, cujo certo ou errado na leitura não existe.
Desta vez, cito Burke:
"Não convém tentar voar, quando se pode, no máximo, arrastar-se. Ao tratar de algum assunto complexo, devemos examinar separadamente cada um dos elementos distintos que o compõem e reduzir tudo à maior simplicidade possível, uma vez que o caráter da nossa natureza nos prende a uma lei rigorosa e a limites bastante estreitos. É necessário comparar nosso assunto com os de natureza análoga e até mesmo oposta, pois, como frequentemente ocorre, as descobertas podem provir do contraste, o que nos passaria desapercebido em um exame isolado. Quanto maior o número dessas comparações, maiores serão as possibilidades de que nosso conhecimento seja comprovadamente mais geral e mais seguro, assim como fundado em uma indução mais ampla e completa."

Por sinal, mini-fórum funcional: Paulo > Sensacional o resultado. Foi via Photomatix ou PS CS.. 02 ou 03? Adoraria trocar mais figurinhas contigo..

Anônimo disse...

Máeunãoentendi... o "concordamento"...
Idéia - neoplatonicamente falando -não é intenção, e expressão, Rosseau já diria que é um transbordamento de sentimentos arrebatados...
Tb não creio que todos os artistas desejam ser enxergados. Conheço muitos que querem enxergar com. Missionários incomparáveis...
O que - eu - hoje, preciso ver captado, pra querer denominar Arte, no meu impulso de arrogancia pouco lapidado, não é a pessoa que procura, mas o imanencia na qual estamos todos inseridos. Reflexos ou rebrilhos do Ouro. Ingenuidade a minha...? Talvez a própria busca por si seja já o encontro de uma fluidez latente que transparece
o que de menos homem e mais Humano... ... ... há, esquecido na gente. Luta pelas Travessias... Lembrei de uma frasesinha solta que diz: o artista não é quem produz, mas quem torna visivel...
Será pois, isso isto: re-t(e)orica vontade de re-formulação de uma necessidade instintiva de com-partilhar des-cobertos estados de espírito? A tal da expressão artistica, genuinamente falando? Nós contemporâneos somos o resto do que restou de um outro plano, pedaços soltos... estilhaços... ... ... Sim, porque talvez e antes, fosse bom, determinar as diferenças entre o particular e o intimo. O que há de mitologico na gente... e o que são exercícios de descascar-se, diariamente, de uma mascara imputada por sobre a essencia de nós mesmos... Já diria o Coltrane: "sempre procuro limpar o espelho" (falando de seu coração ao produzir Arte)... sei lá. No fundo, sei de nada não... só procuro, instintivamente como quem tem sede, a água na qual não me vejo, e me afogo engulida-mente...

Laa Kybele: disse...

Qual a vertente filosófica para a acepção escolhida para a palavra idéia vem de uma busca de cada essência singular. Se das definições de Platão, Plotino ou Rousseau, trato aqui só com conjeturas possíveis, e não com certezas.
Retórica: Num sentido mais lato, o ser enxergado não poderia também significar o ser enxergado por sí próprio, buscando assim enxergar a sua essência? Enxergar-se na imanência na qual estamos todos inseridos? O que seria então o tornar visível? E a necessidade instintiva de com-partilhar, não seria também a vontade de transcrever os des-cobertos estados de espírito?
Etimologicamente falando, idéia vem de eidos > imagem. Seria achatar denominar Arte como representação via signos da essência, alma e/ou da própria projeção do saber(-se)?

Mas como Blake falou, "é a razão que gela, o que é dinâmico e sagrado. É a exploração metódica até os limites do racional, no ponto em que razão e desrazão se fundem, é terra de ninguém (...)"

Outra concordância: Só sei, que nada sei; sei que busco, e sigo. Confluo com a minha travessia.

Anônimo disse...

Uau! A coisa aqui é de alto nível!!!

Anônimo disse...

"Foi Gaëtan Picón um dos poucos estetas que chamaram a atenção para o condicionamento da Estética - em seu próprio campo de experiência – pelas mais diversas teorizações filosóficas sobre a Arte. No caso, a captação estética estaria previamente comprometida com certas orientações de pensamento dos filósofos da Arte. A reflexão sobre os porquês, as origens e as essências, por exemplo, determinaria fatalmente questões como a hierarquização e a classificação das artes. Em suma: os critérios apreciadores dependeriam sempre do ponto de vista adotado. Onde quer que a estética surja como uma dedução da filosofia da arte, o juízo de apreciação se rege pela conformidade da obra à essência da arte ou do gênero, ainda segundo Gaëtan Picón.
E o fenômeno principal - a arte tal como se manifesta, e não o que poderia determinar a sua manifestação - ficaria entre parênteses. E, desse modo, seria mais uma vez tangenciado. Por mais enriquecedor que seja o cotejo com as mais variadas interpretações sobre a arte, esta permanece sempre, não somente para além de quaisquer avaliações estéticas que sobre ela se venham a fazer, mas, sobretudo, de todas as indagações que pretendam esgotá-la enquanto fenômeno."

Rogério

Anônimo disse...

Gostaria de ver outras fotos do Paulo Prestes Franco.

E Leo, parabéns pelo blog, atualize sempre, por favor!